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SÉRIE: A REVOLUÇÃO DA MOBILIDADE ELÉTRICA – PARTE 7
SÉRIE: A REVOLUÇÃO DA MOBILIDADE ELÉTRICA – PARTE 7
Mauro Shirasuna

Potência Máxima Aceita pelo Veículo Elétrico no Carregamento Tipo DC

 

Olá! Seja bem-vindo à sétima parte da nossa série sobre a revolução da Mobilidade Elétrica. Nos últimos artigos, exploramos como diferentes aspectos da infraestrutura de carregamento afetam o desempenho e o tempo de recarga dos veículos elétricos (VEs). Hoje, vamos nos aprofundar no conceito de carregamento DC (corrente contínua), explicando o papel da potência máxima aceita pelo veículo e como essa variável influencia o processo de carregamento rápido.

 

Diferença Entre Carregamento AC e DC

 

Antes de abordarmos a potência máxima no carregamento DC, é importante relembrar a diferença fundamental entre os dois tipos de carregamento. No carregamento AC (corrente alternada), que é mais comum em residências e estações públicas de baixa potência, o carro utiliza um dispositivo interno chamado Onboard Charger (carregador a bordo). Esse componente converte a energia alternada recebida da rede elétrica em corrente contínua, que é o formato necessário para carregar as baterias do veículo.

 

Já no carregamento DC, a conversão da energia alternada para contínua ocorre externamente, no próprio carregador. Isso permite que o Carregador tipo DC forneça diretamente a corrente contínua para a bateria do veículo, eliminando a limitação de potência imposta pelo Onboard Charger. Como resultado, o carregamento DC é muito mais rápido, permitindo que o processo de recarga seja concluído em uma fração do tempo necessário em carregadores AC.

 

O Papel da Potência Máxima Aceita Pelo Veículo

 

Embora o carregamento DC ofereça uma velocidade significativamente maior, há um fator crítico que define quanta potência o veículo pode de fato utilizar: a potência máxima aceita pelo veículo. Independentemente da potência que o carregador DC possa fornecer, cada veículo tem um limite técnico que controla o quanto de energia ele pode receber em um determinado momento. Isso significa que, mesmo que um carregador tenha a capacidade de fornecer, por exemplo, 350 kW, se o veículo for projetado para aceitar apenas 100 kW, esse será o limite durante o carregamento.

 

Este princípio é semelhante ao que discutimos no blog anterior sobre o carregamento AC, onde a potência do Onboard Charger define o limite de aceitação da energia. A principal diferença no carregamento DC é que a limitação está na própria bateria do veículo e em seu sistema de gerenciamento de energia (BMS), e não no Onboard Charger.

 

Exemplos de Potência Máxima em Diferentes Modelos

 

A seguir, vamos ver exemplos práticos de veículos populares e suas respectivas capacidades de carregamento DC:

 

Nissan Leaf (50 kW): Este modelo popular de veículo elétrico pode aceitar uma potência máxima de 50 kW durante o carregamento DC. Mesmo que o carregador DC seja capaz de fornecer potências mais altas, como 100 kW ou 150 kW, o Nissan Leaf não poderá utilizar essa energia extra. Isso resulta em um tempo de carregamento que é proporcional à potência máxima aceita, que é significativamente mais lenta do que veículos que podem suportar potências maiores.

 

Tesla Model 3 (250 kW): O Tesla Model 3 Long Range Dual Motor é um exemplo de veículo otimizado para aproveitar a tecnologia de carregamento rápido. Ele pode receber até 250 kW de potência em um carregador DC, o que permite recarregar grandes quantidades de energia em um curto período de tempo. A infraestrutura de Superchargers da Tesla foi projetada para maximizar essa vantagem, oferecendo carregadores que podem fornecer potências acima de 250 kW. Em questão de 20 a 30 minutos, um Model 3 pode ser carregado de 10% a 80% de sua capacidade, o que o torna ideal para viagens de longa distância.

 

Audi e-tron (150 kW): O Audi e-tron é outro exemplo de um veículo elétrico de alta performance que pode aceitar potências relativamente elevadas em carregadores DC. Com uma capacidade de carregamento de até 150 kW, o e-tron pode recarregar sua bateria de maneira eficiente em postos de carregamento rápido, proporcionando um equilíbrio entre potência e eficiência de carregamento.

 

O Impacto da Potência Máxima no Tempo de Carregamento

 

Para entender o impacto da potência máxima no tempo de carregamento, devemos considerar a relação entre a capacidade da bateria e a potência do carregador. Como vimos nos blogs anteriores, o tempo de carregamento pode ser estimado pela fórmula:

 

Tempo de Carregamento (horas) = Capacidade da Bateria (kWh) / Potência do Carregador (kW)

 

No entanto, essa fórmula é uma simplificação, pois não leva em conta fatores como a eficiência da bateria, as perdas de energia durante o processo de conversão e, principalmente, a diminuição da taxa de carregamento conforme a bateria se aproxima da carga completa. No caso de carregadores DC, o tempo de carregamento é mais curto quando a bateria está em um estado de carga baixa e tende a aumentar conforme ela se aproxima de 80% ou 90% de carga. Isso ocorre devido à proteção térmica e à gestão da integridade da bateria, que diminuem gradualmente a potência para evitar danos.

 

Exemplo de Tempo de Carregamento em um Tesla Model 3

Considerando um Tesla Model 3 Long Range Dual Motor com uma bateria de 75 kWh e uma potência de carregamento de 250 kW, o tempo estimado de carregamento de 10% a 80% seria algo em torno de 20 a 30 minutos em um Supercharger. Isso se deve à capacidade do veículo de utilizar quase toda a potência oferecida pelo carregador. Em contrapartida, se o veículo estivesse conectado a um carregador de 50 kW, o tempo de carregamento seria significativamente mais longo, atingindo cerca de 1 hora e 20 minutos para o mesmo nível de carga.

 

O Papel dos Sistemas de Gerenciamento de Bateria (BMS)

 

Os sistemas de gerenciamento de bateria, conhecidos como Battery Management Systems (BMS), desempenham um papel vital na gestão da potência durante o carregamento DC. O BMS é responsável por monitorar o estado de saúde da bateria, a temperatura, a tensão e a corrente de cada célula, garantindo que o carregamento seja seguro e eficiente. No carregamento DC, o BMS também controla a quantidade de potência que a bateria pode receber em cada estágio do processo.

 

À medida que a bateria se aproxima de uma carga completa, o BMS reduz a taxa de carregamento para evitar danos causados pelo calor e pela sobrecarga. Esse gerenciamento dinâmico é o motivo pelo qual a última fase do carregamento (de 80% a 100%) costuma ser mais lenta, mesmo em carregadores DC rápidos. Em muitos casos, os fabricantes recomendam carregar a bateria apenas até 80% em carregadores rápidos para maximizar a vida útil da bateria e reduzir o tempo de espera.

 

Infraestrutura de Carregamento Rápido DC

 

O crescimento da infraestrutura de carregamento rápido é fundamental para a adoção em larga escala de veículos elétricos. Postos de carregamento com carregadores DC de alta potência estão se tornando cada vez mais comuns em rodovias, centros urbanos e áreas comerciais, permitindo que os motoristas de veículos elétricos realizem recargas rápidas durante suas viagens.

 

Os principais players no mercado de infraestrutura de carregamento, como Tesla, IONITY, Electrify America e EVgo, estão expandindo suas redes de estações de carregamento, com investimentos significativos em tecnologia de alta potência. Redes como a IONITY, na Europa, já oferecem estações com carregadores de 350 kW, capazes de carregar veículos compatíveis em questão de minutos.

 

Além disso, há um esforço contínuo para padronizar os conectores e os protocolos de comunicação entre veículos e carregadores, como o CCS (Combined Charging System), que se tornou o padrão dominante na Europa e nos Estados Unidos. Isso permite maior interoperabilidade entre diferentes marcas de veículos e redes de carregamento.

 

Conclusão

 

À medida que o mercado de veículos elétricos evolui, a potência máxima aceita pelo veículo durante o carregamento DC continua sendo um fator determinante para a experiência do usuário. Veículos com maior capacidade de aceitação de potência estão redefinindo as expectativas dos consumidores em termos de praticidade e velocidade de recarga. Ao mesmo tempo, a expansão da infraestrutura de carregamento rápido está ajudando a superar uma das principais barreiras à adoção em massa dos veículos elétricos: o tempo de carregamento.

 

No próximo artigo, continuaremos a explorar os avanços em tecnologia de carregamento e o que isso significa para o futuro da mobilidade elétrica.

 

Até breve!

Mauro Shinasuna
Product Manager
É Engenheiro Elétrico formado pela Escola Politécnica da USP e com Especialização em Administração Industrial pela Fundação Vanzolini da USP. Possui mais de 30 anos de experiência no setor de Automação Industrial com passagens em diferentes empresas como Nestlé, Heineken, Rockwell Automation. Atualmente, é Product Manager da Delta Eletronics Brasil.

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